sexta-feira, 20 de novembro de 2009

The Spirit of Radio

Venho andando a passos largos; calmos, mas resolutos. O vento um tanto gelado percorre os ares de uma manhã qualquer, dessas que a gente esquece na primeira oportunidade. Os fones de ouvido, de uma marca qualquer, colocados de uma maneira que não haja contato com o mundo exterior, estão presos e não deixam escapar nada. E, se você se perguntou se meus passos seguem a velocidade da canção que por ora toca na minha bugiganga eletrônica, acertou na mosca. Não posso dizer que canção é, realmente. Deixo que tentem adivinhar. Vou dar algumas pistas com o passar do texto.
Continuo com meus passos retos, começa a maratona, uma missão. Pode não parecer, mas o desfiladeiro é mais largo, e lembra uma grande tigela de sopa. Pé após pé, cansado, mas fazendo o melhor que posso chego entre o sol e a sombra, mas ainda longe do fim. Lógico que não quero continuar o dia. Quero ir pra casa antes mesmo de ter tocado o chão fosco e manchado de folhas; e, dentro de mim, um choro distante.
Dessa vez peguei o ônibus sozinho. A Eterna companheira de viagens chegou antes por causa da preguiça do que vos escreve, sem pena nem piedade. E ainda assim, acho que é um dia especial.
A Cantina ainda está fechada, o que me parece que é cedo demais. O estranho é que o relógio está marcando errado as horas. A bateria acabou quando marcavam 21:12. Preciso de novas baterias. Para mim e para o relógio.
Quisera eu ter o livre-arbítrio e poder deixar essa coisa toda para trás; faculdade, estudos e stress, só voltando a mim período que vem. O cansaço nessas épocas é incomparável e é impossível mudar de idéia. Olhando os carros parados, sinto que não estou exatamente sozinho, e pelas suas janelas, acho que estou ficando careca de verdade.
O corredor é muito comprido, convenhamos. O bloco da frente parece se esticar como o corpo de uma cobra e ser frio como seu sangue. Cruzá-lo, muitas vezes, nos dá a sensação de uma pequena vitória. Ainda mais com a visão que temos ao atravessá-lo: as árvores. Muitas delas parecem ter uns 30 anos, e fico imaginando quem mais teria parado para observá-las. Ninguém, penso. E como tudo o mais que vem, elas também se vão num estalo. O clima ambiente esquenta um quase-nada e faz meu sangue correr como uma Ferrari estranhamente líquida. E, com isso meus dedos batucam a lateral da perna como pequenas baquetas multi-divididas. A canção que agora pula de fone em fone tem seu riff inicial de guitarra muito incomum: lembra um rádio dessintonizado e a bateria que retumba é muito veloz; meus dedos não a seguem. São insuficientes, e aí entram os braços no ar. Tento tocar cada tom invísivel com precisão e habilidade, mas sinto não conseguir. Meu adversário é superior e me vence rápido. Ao me ver nessa batalha, a moça do departamento diz que sou uma banda ambulante, ao fazer um intrumento a cada momento. E a música que tocava? The Spirit of Radio.
E, ao seu fim, meus passos também encontraram o seu.