Você acorda, e uma das primeiras coisas que faz é olhar ao redor. Onde está o meu celular? Que horas são? Estou atrasado? Você não sabe. O celular ficou em cima da mesa do computador, mas você jurava que tinha colocado ao lado da cama. É, as coisas mudam de lugar sem você perceber. É automático.
A vida também é assim, você pensa. O momento de acordar é ótimo para começar divagações, e isso também passa pela sua cabeça. Você vira para o lado e a cama parece ficar mais macia do que o normal e percebe que deixou os chinelos num local diferente durante a noite. Você fecha os olhos e recomeça a pensar sobre a vida. Péssima ideia, sua mente diz de imediato. Caminho sem volta. É sempre assim.
A vida muda as coisas de lugar sem que percebamos. Pequenas coisas, como simples objetos de nossa casa. Todas as coisas estão mudando e às vezes nem nos damos conta de como esse processo é lento e cortante. É necessário também, diga-se de passagem. Tantas outras coisas mudam também, como as pessoas. Elas vivem mudando ao seu redor. Pessoas que um dia você amou, e hoje mal se lembra quem são. Pessoas que tinham um lugar cativo dentro do seu coração, hoje são mera paisagem do mundo para você. A pessoa que há dois dias (dois dias, veja só!) você mal sabia que existia e hoje é a pessoa que você pensa antes de ir dormir. Pessoas que nunca imaginávamos hoje são nossas melhores amigas e alvo de nossas preces.
É uma coisa importante. É um ciclo. Ciclos não têm fim e nem começo. Ciclos apenas existem e você é parte dele, inclusive agora, já preparando para se levantar da sua cama. O que fazer?, você pensa, olhando para o celular e conferindo as horas. Você vê que acordou mais cedo do que precisava e o sono está praticamente extinto por agora. Não se preocupe, depois do almoço tem mais. Apenas feche os olhos e deixe-se levar pelo pensamento.
O que fazer?, a pergunta volta à mente. Bom, não há o que fazer. Encerrar o ciclo? Morte. Não conta. Você não pode impedir que algo aconteça. Tudo vai estar diferente em algum momento de sua existência. Porém, há apenas uma coisa você pode impedir de mudar: você. Seja você mesmo. Do princípio ao final do ciclo. Seja verdadeiro. Seja.
É pensando nisso que, mais uma vez, você entra no chuveiro para se preparar para ir trabalhar. Assim como todos os outros dias antes deste e mais infinitos depois.
Um ciclo.