sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Problemas de Ser Um Cara Fora de Moda

Tem dia que eu penso demais. Mas tem dias que eu sou a besta quadrada que normalmente sou. Hoje eu me sinto um tanto enquadrado na primeira categoria, tendo acordado cedo depois de tomar Jack and Coke (uma singela homenagem à Lemmy Kilmister e sua bebida preferida). Parece que a bebida, durante o sono, ativou certos neurônios que cochilavam tranquilamente há décadas e, muito provavelmente, continuariam adormecidos por outros tantos anos. Mas não, eles acordaram e começaram a cantar Bee Gees. 

Em estado avançado de raciocínio inútil, coloco lado a lado coisas completamente aleatórias que, no fim, acabam me levando a uma resposta que eu nem sabia que pudesse existir. Não vou citar toda a minha linha de pensamento aqui (ela inclui segredos de altíssima periculosidade caso caiam em mãos erradas), mas cheguei à conclusão de que não sou um bom exemplo de pessoa que acompanha as tendências do coração para o século corrente. A primeira coisa óbvia é que não sou "pegador". E pegador, para que estejamos juntos em raciocínio significa (de acordo com o Dicionário Cadurélio):

Adjetivo. Diz-se daquele ou daquela que possui uma vasta quantidade de relacionamentos efêmeros com outras pessoas em  um curto período de tempo.

Você me enxerga como possuidor de tal definição em minha personalidade? Nem eu. Vejo colegas contando histórias daquilo que fizeram, quem pegaram, onde pegaram, quantas vezes pegaram... Na hora em que pergunto qual o nome da pessoa muitas vezes eu ouço "Sei lá, VÉI". Quero deixar claro que não me importa como cada um vive sua vida, mas algumas coisas me fazem sentir uma certa invejinha saudável. Se algum amigo me fala "cara, eu sou muito foda em Dark Souls"... Disso eu tenho inveja. Se outro me fala "cara peguei 239 mulheres e meia no Carnaval"... Não tenho a mínima inveja. Coisas passageiras não me satisfazem, sentimentos vazios não me dão brilho nos olhos. Não me importo de passar meses, quem sabe anos, sem ninguém por que eu sei que em algum momento, quando eu estiver pronto, alguém vai aparecer mudando todos os meus paradigmas. Alguns dirão que, se eu me tornar um pegador, mais rapidamente aparecerá alguém. E eu penso, será que uma pessoa quase vazia de sentimentos pode ser capaz de reconhecer algo verdadeiro? Não sei. Não quero descobrir.

Outra coisa que me fez perceber o quanto minha personalidade é antiquada foi o Tinder. Conversando com amigos, percebi que aquilo não serve para muita coisa a não ser procurar parceiros para transar loucamente a troco de nada. Aceitei com um péssimo bom grado um perfil criado naquilo por um amigo (depois de me encher a paciência para fazê-lo, ele o fez por mim), nem para falar que tinha. Não demorei a sentir que aquilo era um mercado virtual onde a aparência era o centro de todas as razões para que você ganhasse um like. E como beleza é meu atributo mais ausente, não está entre as primeiras coisas que eu procuro em uma mulher também (quem sou eu pra exigir o que não tenho né). E sentir isso me deprimiu. Não por ser feio, mas por sentir que cada um de nós pode ser descartado por não ser "bonitinho" o suficiente para determinada pessoa. E aí entra efemeridade que o Tinder me passou. Não serve para nada o que eu (ou qualquer uma pessoa) possa ter de bom se eu não for um deus grego. Por alguma razão, obtive um match e não dei like algum. Meu amigo Gabriel o fez por mim também, por conta própria. Provavelmente não agradei meu único match.  E depois clicar no X para todo mundo, apaguei meu perfil. Sobrevivi.

Fiquei devidamente impressionado também pela forma que praticamente todo mundo com um perfil no aplicativo atira para todos os lados, sai com várias pessoas de forma simultânea, mas não ao mesmo tempo (isso foi uma piada, pense para entender). E isso, me leva a pensar sobre meu conceito de fidelidade.

Fidelidade é um negócio simples, mas é complicado pra caramba. Acredito que posso me considerar uma pessoa que leva a fidelidade a sério. Pelo menos nunca traí ninguém, ou mesmo tive vontade. E posso afirmar com clareza e certeza que jamais o farei. Gosto de ser fiel. Mas a fidelidade é um conceito muito amplo. Sou fiel a muitas coisas na vida. Por exemplo, sou extremamente fiel a um picolé de limão. Sério. Não troco por nenhum outro picolé, por mais gostoso e sedutor que outro possa me parecer. E é muito parecido, para mim, quando me interesso por alguém e as coisas vão caminhando. Não atiro para todos os lados. Me mantenho fiel ao meu sentimento de ter sido cativado por alguém específico e não pela necessidade que todos parecem ter de ficar pulando por aí de uma pessoa para outra. Gosto de conhecer aos poucos uma pessoa, e conhecendo várias ao mesmo tempo não vai me dar o prazer de estar ali, presente, e não pensando que eu poderia estar me divertindo com a Mauricélia ou a Antônislaura, ou com as duas juntas. E mais umas amigas delas. Provavelmente sou uma pessoa monótona, muito século XIX.

Bom, basicamente escrevi tudo isso para dizer que não entendo nada do que está acontecendo. Sou romântico, sentimental e vivo numa utopia coracional (tem a definição no Dicionário Cadurélio também) demais para compreender, e gosto ainda mais de ser assim. Não preciso mudar para ser aceito por alguém e, aliás, não preciso ser aceito por ninguém. E aí  mora a beleza de sermos quem somos e termos orgulho por isso. Apesar de às vezes me sentir um pouco deslocado desse mundo que está rodando aí... Mas uma hora aparece alguém com quem dividir meu jeito absurdo de ser. Ou não. São os problemas de ser fora de moda.