Tem dia que eu penso demais. Mas
tem dias que eu sou a besta quadrada que normalmente sou. Hoje eu me sinto um
tanto enquadrado na primeira categoria, tendo acordado cedo depois de tomar Jack and Coke (uma singela homenagem à
Lemmy Kilmister e sua bebida preferida). Parece que a bebida, durante o sono,
ativou certos neurônios que cochilavam tranquilamente há décadas e, muito
provavelmente, continuariam adormecidos por outros tantos anos. Mas não, eles acordaram
e começaram a cantar Bee Gees.
Em estado avançado de raciocínio
inútil, coloco lado a lado coisas completamente aleatórias que, no fim, acabam
me levando a uma resposta que eu nem sabia que pudesse existir. Não vou citar
toda a minha linha de pensamento aqui (ela inclui segredos de altíssima
periculosidade caso caiam em mãos erradas), mas cheguei à conclusão de que não
sou um bom exemplo de pessoa que acompanha as tendências do coração para o
século corrente. A primeira coisa óbvia é que não
sou "pegador". E pegador, para que estejamos juntos em raciocínio
significa (de acordo com o Dicionário Cadurélio):
Adjetivo. Diz-se daquele ou daquela que possui uma vasta quantidade de
relacionamentos efêmeros com outras pessoas em um curto período de tempo.
Você me enxerga como possuidor de
tal definição em minha personalidade? Nem eu. Vejo colegas contando histórias
daquilo que fizeram, quem pegaram, onde pegaram, quantas vezes pegaram... Na
hora em que pergunto qual o nome da pessoa muitas vezes eu ouço "Sei lá,
VÉI". Quero deixar claro que não me importa como cada um vive sua vida, mas
algumas coisas me fazem sentir uma certa invejinha saudável. Se algum amigo me
fala "cara, eu sou muito foda em
Dark Souls"... Disso eu tenho inveja. Se outro me fala "cara peguei
239 mulheres e meia no Carnaval"... Não tenho a mínima inveja. Coisas
passageiras não me satisfazem, sentimentos vazios não me dão brilho nos olhos.
Não me importo de passar meses, quem sabe anos, sem ninguém por que eu sei que
em algum momento, quando eu estiver pronto, alguém vai aparecer mudando todos
os meus paradigmas. Alguns dirão que, se eu me tornar um pegador, mais rapidamente
aparecerá alguém. E eu penso, será que uma pessoa quase vazia de sentimentos
pode ser capaz de reconhecer algo verdadeiro? Não sei. Não quero descobrir.
Outra coisa que me fez perceber o
quanto minha personalidade é antiquada foi o Tinder. Conversando com amigos,
percebi que aquilo não serve para muita coisa a não ser procurar parceiros para
transar loucamente a troco de nada. Aceitei com um péssimo bom grado um perfil criado naquilo por um amigo (depois de me encher a paciência para fazê-lo, ele o fez por mim), nem para falar que tinha. Não demorei a sentir que aquilo era um mercado virtual
onde a aparência era o centro de todas as razões para que você ganhasse um like. E como beleza é meu atributo mais
ausente, não está entre as primeiras coisas que eu procuro em uma mulher também
(quem sou eu pra exigir o que não tenho né). E sentir isso me deprimiu. Não por
ser feio, mas por sentir que cada um de nós pode ser descartado por não ser
"bonitinho" o suficiente para determinada pessoa. E aí entra
efemeridade que o Tinder me passou. Não serve para nada o que eu (ou qualquer uma pessoa) possa ter de bom
se eu não for um deus grego. Por alguma razão, obtive um match e não dei like algum. Meu amigo Gabriel o fez por mim também, por conta própria. Provavelmente não agradei meu único match. E depois clicar no X para todo mundo,
apaguei meu perfil. Sobrevivi.
Fiquei devidamente impressionado também pela forma que praticamente todo mundo com um perfil no aplicativo atira para
todos os lados, sai com várias pessoas de forma simultânea, mas não ao mesmo
tempo (isso foi uma piada, pense para entender). E isso, me leva a pensar sobre
meu conceito de fidelidade.
Fidelidade é um negócio simples,
mas é complicado pra caramba. Acredito que posso me considerar uma pessoa que
leva a fidelidade a sério. Pelo menos nunca traí ninguém, ou mesmo tive
vontade. E posso afirmar com clareza e certeza que jamais o farei. Gosto de ser fiel. Mas a
fidelidade é um conceito muito amplo. Sou fiel a muitas coisas na vida. Por
exemplo, sou extremamente fiel a um picolé de limão. Sério. Não troco por
nenhum outro picolé, por mais gostoso e sedutor que outro possa me parecer. E é
muito parecido, para mim, quando me interesso por alguém e as coisas vão
caminhando. Não atiro para todos os lados. Me mantenho fiel ao meu sentimento
de ter sido cativado por alguém específico e não pela necessidade que todos
parecem ter de ficar pulando por aí de uma pessoa para outra. Gosto de conhecer
aos poucos uma pessoa, e conhecendo várias ao mesmo tempo não vai me dar o
prazer de estar ali, presente, e não pensando que eu poderia estar me divertindo
com a Mauricélia ou a Antônislaura, ou com as duas juntas. E mais umas amigas
delas. Provavelmente sou uma pessoa monótona, muito século XIX.
Bom, basicamente escrevi tudo
isso para dizer que não entendo nada do que está acontecendo. Sou romântico,
sentimental e vivo numa utopia coracional
(tem a definição no Dicionário Cadurélio também) demais para compreender, e
gosto ainda mais de ser assim. Não preciso mudar para ser aceito por alguém e,
aliás, não preciso ser aceito por ninguém. E aí
mora a beleza de sermos quem somos e termos orgulho por isso. Apesar de às
vezes me sentir um pouco deslocado desse mundo que está rodando aí... Mas uma
hora aparece alguém com quem dividir meu jeito absurdo de ser. Ou não. São os
problemas de ser fora de moda.