terça-feira, 15 de maio de 2012

Parte de Um Conto

Um parte mínima de um conto. Espero que gostem.

–Susan! Abra essa porta já! Abre-essa-porra-AGORA! – e avalanche de socos continuava. Ele não ia arrombar a porta. Na certa acertaria Susan em cheio, e uma coisa da qual ela não tinha necessidade agora era levar uma surra de um pedaço de madeira.
David já soltava todas as palavras feias que conhecia (a grande maioria aprendera ainda na infância) e nenhuma resposta, nenhum gemido, nenhum choro. Se haviaalguma criança nascendo, havia uma grande probabilidade dela chorar. Masnada. E o sangue já alcançava seus sapatos sujando a sola em alguns pontos dafrente. Ele poderia chorar, se não estivesse em tamanho choque e pudesse pensar com clar...
Um baque surdo.
E mais outro.
David se preparou para abaixar, a curiosidade e a surpresa, o medo e o pavor, todosquerendo descobrir que som foi aquele. Ou o que o produzira. No meio do caminho até que o joelho esquerdo encostasse no chão uma cabeça manchada de sangue emparte seco e em parte ainda suficientemente líquido para escorrer surgiu pordebaixo da porta. Num impulso violento, David se jogou para trás, dando de costas na parede. A coisa estava cada vez mais tentando se libertar do interior da cabine, se arrastando para fora, como uma cobra não faria melhor.
David não sentia as pernas. Sentia uma dor na nuca pelo impacto, mas isso não eraimportante. Se ele pudesse correr, não conseguiria. Se ele pudesse pensar, era muito provável que teria desmaiado de pavor. Uma criatura banhada em sangue humano estava avançando, tendo um tamanho descomunal para ter nascido de uma mulher. Braçada a braçada a criatura já saíra da cabine e praticamente estava de pé sobre o que agora é um grande lago de sangue pastoso. Estava dentro do que fora um vestido rosa e tinha uns olhos muitos azuis dentro das órbitas. Atrás da portinhola da cabine, Susan já deveria estar com o corpo despedaçado do tórax para baixo, com a possibilidadede de ter quebrado todos os ossos da bacia no processo. Pelo tamanho do que saíra dela. Será que saíra?
A coisa-menina olhou David dentro dos olhos, um azul cintilante emanando das duas bolas que possuía dentro das cavidades oculares. Àquela altura, nada era mais válido como desculpa. Os dois, parados ali, um encarando o outro, sem nada a dizer. A razão ia voltando à David e ele pensou em correr e sumir. Tomar aquele trem e desaparecer em qualquer fim de mundo que possa deixá-lo o mais distante daquela coisa. Mal sabia ele que a porta daquele banheiro permaneceria fechada para todo o sempre.