quarta-feira, 9 de maio de 2012

The Beatles e Eu

Ainda posso sentir aquela vibração, aquela nostalgia. De algo que nunca vi, que nunca passei. E posso afirmar que nunca mais senti algo igual ou mesmo próximo. São coisas que só a música pode nos dar nesses tempos de caos e desamor.
         
Nessa época eu já morava em Além Paraíba, estava na 5º série e ainda nem havia começado as aulas de violão. Música para mim era algo que não importava muito, então. Música não era uma arte que eu reconhecia na época, era algo ruidoso que tocava no rádio e a atenção que eu prestava nisso era próxima de nada. Lembro que nessa época, mais para a metade inferior do ano, meu pai havia viajado para Petrópolis a trabalho, mas até hoje não sei o que exatamente ele foi fazer por lá. Algumas semanas se passaram entre a sua ida e seu retorno e, quando ele chegou em casa, trazia um CD diferente. Nunca tinha ouvido falar daquele pessoal que gravou aquele disco. Pelo  capa, pensei que fosse o primeiro CD deles: havia um baita número 1 amarelo pintado em um quadrado vermelho e, no canto superior esquerdo, e letras miúdas estava escrito The Beatles. Mal sabia que aquele disquito vermelho iria mudar a minha vida, e ainda continua mudando.

Meu pai devia ouvir o CD quando eu não estava em casa, pois não me lembro de um momento sequer dele ouvindo-o. Nem umazinha. O que é até bom, porque num dia de ócio absoluto (o que na 5º série, aos 12 anos de idade, não é uma coisa lá muito incomum) resolvi dar uma chance aquela banda que lançara recentemente seu primeiro disco. Mas antes de por o CD no laser – parodiando uma velha expressão...  – perguntei a meu pai sobre a banda. Se eu não tivesse feito isso, teria me surpreendido mais com o som dos meninos. Ele me disse que era uma banda do tempo dele – banda velha, pensei – mas que ele gostava de poucas das músicas que havia no CD. Hm, pensei, então este não é o primeiro CD dos caras... Dã. Uma nova descoberta feita, vamos ouvir o disco! Meu inglês na época era parco, pobre, ridículo. Se é que havia algum inglês no interior da minha mente e, você sabe, a banda em questão só fez músicas em inglês (mentira, tem uma com pequenos pedaços em espanhol, italiano, português e por aí vai. Sun King é o nome da dita-cuja), por um motivo bacana: eles eram da Inglaterra!
            
Uma respiração e pronto. O CD estava no toca-discos. Pego a caixinha e a viro para ler os nomes das músicas. A Primeira faixa era Love Me Do. Opa, uma palavra conhecida! Love. Quem não conhece? Até minha avó deve conhecer essa. E cara, sabe paixão à primeira ouvida? Eu não entendia e sabia que isso poderia existir até então. Aquela gaita me dá arrepios toda vez que ouço essa música, mesmo hoje, 2012! Aliás essa música completará 50 anos da sua gravação este ano.
            
Música após música, fui descobrindo que aquela era a banda mais legal do mundo, mesmo sem conhecer mais nada de rock. E mesmo 12 anos depois esse pensamento permanece imbatível, indestrutível, inabalável, intransponível, inacessível, imprescindível, imperscrutável, imaculável, impenetrável, intangível, imersível e afins. Tantos clássicos eternos presentes naquele disco que demorei uns 2 anos até conseguir largá-los. E aí começa uma fase muito difícil na minha vida de beatlemaníaco.
            
Em 2001, no ano seguinte àquele que descobri a banda, comecei a querer aprender mais sobre ela. Ouvir mais coisas ler mais sobre. A única fonte que eu tinha em mãos para aprender um pouquinho era na Enciclopédia Larousse, aquela mesma que veio no Jornal O Globo por várias semanas. Li tanto o artigo sobre os Beatles lá que praticamente decorei . O artigo citava o nome dos integrantes, suas funções, alguns discos e datas importantes. Nada muito profundo, mas para a época, era informação para dar e vender.  Da Internet eu nem tinha noção, mal sabia que existia. Então, como fazer?
            
Graças a dois amigos, coisas mágicas apareceram nos dois anos seguintes. Seus nomes: Raphael, Lucas. Seus respectivos pais possuíam vinis dos Beatles. Grande coisa, pois eu nunca imaginei que eles fossem me emprestar. Pior que eles me emprestaram! Em algumas semanas, consegui o Please Please Me, Abbey Road, Rubber Soul, Revolver e o Let it Be. Muita coisa! Ficava extasiado quando chegava em casa, com cada um deles e colocava para rodar... Descobri o mundo com aqueles discos. Logicamente, fiz cópias para mim em fita cassete, que tenho até hoje.
           
Graças à Anna, uma amiga, consegui o CD do Help!, que hoje é um dos meus preferidos. Ela me emprestou e a história que envolve este empréstimo é um tanto mirabolante.
            
Não posso deixar de agradecer ao Conrado, pois com ele peguei as coisas mais psicodélicas da banda, com o empréstimo do Álbum Azul (aquela coletânea 1967-1970). Descobri que não havia limite para o som dos meninos, ao ouvir aquilo. Strawberry Fields Forever é uma das coisas mais impressionantes já gravadas. Sem comparação.
            
E meu pai, que me deu o maior disco do universo de aniversário?  Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band entrava na minha coleção mais ou menos em 2004, juntamente com o disco Presente, do Renato Russo. É, eu já havia pego a Legião mais ou menos dois anos depois dos Beatles... E de Natal, fiz questão de me arrumar o Let it Be ...Naked! de Natal, eu acho.
            
Não contei a história com muitos detalhes, afinal, são 12 anos de amor. E, em um amor profundo como esse, há muitos pormenores... Mas uma coisa eu posso dizer: esse amor não vai terminar nunca.