Entre um copo e outro de uma
bebida qualquer, uma lembrança. E, no vão entre essas lembranças, uma vontade.
É assim que o tempo passa, as pessoas passam, eu passo. Não é que a solidão
tenha vindo para ficar, estabelecendo um lar aqui nas proximidades da minha
alma. É que talvez seja necessário este período de insegurança, incerteza e
desânimo. Na verdade, talvez a solidão tenha vindo para ficar, sim. Nunca
refletimos sobre ela quando estamos bem, quando temos alguém do nosso lado,
quando o verbo amar é exercido em sua totalidade. Não. Nós sempre fingimos que
ela não existe. É como a morte, de certa forma. Quase nunca nos lembramos de
que, em algum momento, deixaremos de existir. E é justamente nos momentos em
que ela se faz presente nós passamos a nos preocupar com o derradeiro dia. Mas
logo passa.
Levanto-me e pego a garrafa vazia
do que quer que seja que eu esteja tomando. Levando-a até a altura dos olhos,
observo bem seu interior e a comparo a mim. Eu
sou outro recipiente vazio, é o que passa em minha cabeça. Vazio de
emoções, vazio de sorrisos. Não me entenda mal, eu tenho emoções e posso sorrir
quando eu quiser. O problema é que não tenho muitas razões para deixá-los do
lado de fora e estou muito velho para usar máscaras. Meus conflitos
adolescentes há muito são uma lembrança vergonhosa, e muito. Não preciso fingir
ser o que não sou nem muito menos dar satisfação, de mostrar a todos que estou
bem. Para quê? Até a felicidade virou motivo de disputa, de concorrência? Veja vizinho, eu sou feliz. Sou mais feliz
do que você e me divirto jogando isso na sua cara dia após dia, eu posso
imaginar perfeitamente algumas pessoas dizendo isso do alto de sua hipocrisia
doentia. Ok, o álcool está brincando de Fórmula 1 no famoso Circuito que é meu
sangue e me rouba as palavras, me fazendo cuspir frases aleatórias que
dificilmente diria. E é justamente por isso que abro a geladeira e observo seu
interior à procura de algo mais para continuar mantendo o meu copo cheio.
Complicado, você diria. Não, não
estou falando de encontrar algo para beber. Mas do caminho que me propus a
percorrer nos últimos meses, tempo que reservei para que eu pudesse descansar
de um turbilhão de sentimentos que vivi por uns quatro ou cinco anos. Não foi
fácil, amar e esquecer. Nenhuma das vezes. Nunca é, e, se fosse fácil sempre,
não teria graça nenhuma. Nesse caminho às vezes encontro algo que poderia me
tirar dele. Umas duas situações, em épocas diferentes, mexeram o suficiente
comigo e, quem sabe, poderiam ter tirado o pó que havia sobre meu coração e tê-lo feito bater novamente. Não, nunca houve nada de fato, por que: a) eu sou um inútil no campo da 'conquista' e b) porque eu paro e penso se vale a pena tentar. A conclusão é simples.
Sempre vale a pena. Mas acho que ainda não estou preparado para o que quer que
venha a acontecer. Tenho medo, essa é a palavra. Não tenho medo de dar errado e
me ferrar outra vez. Mas tenho medo é de dar certo. Vai entender. Enquanto
isso... Saúde.