quinta-feira, 12 de julho de 2012

Confissão


Entre um copo e outro de uma bebida qualquer, uma lembrança. E, no vão entre essas lembranças, uma vontade. É assim que o tempo passa, as pessoas passam, eu passo. Não é que a solidão tenha vindo para ficar, estabelecendo um lar aqui nas proximidades da minha alma. É que talvez seja necessário este período de insegurança, incerteza e desânimo. Na verdade, talvez a solidão tenha vindo para ficar, sim. Nunca refletimos sobre ela quando estamos bem, quando temos alguém do nosso lado, quando o verbo amar é exercido em sua totalidade. Não. Nós sempre fingimos que ela não existe. É como a morte, de certa forma. Quase nunca nos lembramos de que, em algum momento, deixaremos de existir. E é justamente nos momentos em que ela se faz presente nós passamos a nos preocupar com o derradeiro dia. Mas logo passa.

Levanto-me e pego a garrafa vazia do que quer que seja que eu esteja tomando. Levando-a até a altura dos olhos, observo bem seu interior e a comparo a mim. Eu sou outro recipiente vazio, é o que passa em minha cabeça. Vazio de emoções, vazio de sorrisos. Não me entenda mal, eu tenho emoções e posso sorrir quando eu quiser. O problema é que não tenho muitas razões para deixá-los do lado de fora e estou muito velho para usar máscaras. Meus conflitos adolescentes há muito são uma lembrança vergonhosa, e muito. Não preciso fingir ser o que não sou nem muito menos dar satisfação, de mostrar a todos que estou bem. Para quê? Até a felicidade virou motivo de disputa, de concorrência? Veja vizinho, eu sou feliz. Sou mais feliz do que você e me divirto jogando isso na sua cara dia após dia, eu posso imaginar perfeitamente algumas pessoas dizendo isso do alto de sua hipocrisia doentia. Ok, o álcool está brincando de Fórmula 1 no famoso Circuito que é meu sangue e me rouba as palavras, me fazendo cuspir frases aleatórias que dificilmente diria. E é justamente por isso que abro a geladeira e observo seu interior à procura de algo mais para continuar mantendo o meu copo cheio.

Complicado, você diria. Não, não estou falando de encontrar algo para beber. Mas do caminho que me propus a percorrer nos últimos meses, tempo que reservei para que eu pudesse descansar de um turbilhão de sentimentos que vivi por uns quatro ou cinco anos. Não foi fácil, amar e esquecer. Nenhuma das vezes. Nunca é, e, se fosse fácil sempre, não teria graça nenhuma. Nesse caminho às vezes encontro algo que poderia me tirar dele. Umas duas situações, em épocas diferentes, mexeram o suficiente comigo e, quem sabe, poderiam ter tirado o pó que havia sobre meu coração e tê-lo feito bater novamente. Não, nunca houve nada de fato, por que: a) eu sou um inútil no campo da 'conquista' e b) porque eu paro e penso se vale a pena tentar. A conclusão é simples. Sempre vale a pena. Mas acho que ainda não estou preparado para o que quer que venha a acontecer. Tenho medo, essa é a palavra. Não tenho medo de dar errado e me ferrar outra vez. Mas tenho medo é de dar certo. Vai entender. Enquanto isso... Saúde.