sábado, 23 de outubro de 2010

Rush in Rio II

        De repente, abro a página principal do meu perfil no orkut e vejo que há um novo recado esperando para ser lido. Remetente: Vanessa Morani. Assunto: Rush. É de se estranhar, não há dúvidas, uma mulher falando sobre o Rush por vontade própria. Mas, dessa vez, a coisa era séria. Como doce e atenciosa amiga que ela é, no dia da confirmação dos shows (não me lembro a data, deve ter sido em julho), ela prontamente me deixara uma mensagem avisando que o Rush viria ao Brasil, em São Paulo e no Rio de Janeiro. PORRA! RUSH NO BRASIL! Não acreditei, ninguém poderia acreditar. Era improvável demais. Como uma Red Barchetta, voei para o site oficial e lá a pedrada final: Confirmado! Morri.
        Depois de ressucitado, reli umas 2112 vezes (chutando, tipo assim, por baixo) a notícia do site. Era verdade e prometi a mim mesmo que não iria perder esta oportunidade, a de ver meus grandes ídolos bem perto, para ter certeza que são de carne e osso, apesar deles não serem muito humanos. E pior, ouvir aquelas canções sendo executadas na minha frente, canções que me acompanham há anos, que me mostraram e ainda mostram que, um dia, a Música com forma de arte, já teve seus melhores dias, que dificilmente outros virão.
No início, andei desesperado, achando que os ingressos acabariam de uma hora para a outra. Meu amigo e companheiro de banda Vinícius e eu, na afobação compramos os nossos bem no início das vendas e quebramos a cara (e as contas bancárias) pois, além de sobrarem muitos ingressos, os preços caíram drasticamente. Decidimos ir no Rio, pois, São Paulo era muito fora de mão e daqui de Juiz de Fora nem excursão para lá teria. No Rio, o show seria na praça da Apoteose. Hum, Praça da Apoteose. Bonito nome.
        Comprados os ingressos (facada no olho), só restava esperar e fingir que não estava chegando o mítico 10 de outubro. A data se aproximava, mas bem lentamente, e os planos eram feitos. No dia 9 de outubro, Vinicius viria para a minha casa e no dia 10 às 13h, estaríamos dentro da van que partiria para o Rio de Janeiro. Só de lembrar todo o tempo desde o anúncio e o show em si parece que foi mais longo do que realmente havia sido.
        E finalmente, chegou o dia 10. Acordei tenso. Acordei cedo. Acordei com fome. Na verdade foi o Vinicius que me acordou. Tomamos nosso café da manhã em silêncio. Fomos para a sala e lá pusemos o Snakes and Arrows para tocar. Não poderia ter feito coisa pior. A ansiedade subiu feito jato. Almoçamos. E fomos para o lugar marcado pelos organizadores da excursão. Tudo aconteceu assim, pausadamente.
Meu amigo. Mal sabíamos que ao sentar na bendita van, nossos problemas só estariam começando. Duas vans partiram aqui de Juiz de Fora, 29 pessoas, sem contar a moça da organização e o senhor-metido-a-fodão do motorista. Vocês saberão o porque deste apelido para ele. Aguardem.
        Para começar, a van demora a sair pois nem todos estavam lá ainda. Eu queria sair cedo e chegar cedo para pegar um lugar interessante, afinal, eu já ia de pista comum, (é grana é curtíssima, meus caros) já não ia ser aquela maravilha, e ainda chegar tarde... não dá. Partimos eram 13:18, exatamente. Tudo cronometrado para ser publicado no blog em alguma data posterior. Mesmo um pouquinho atrasada, a viagem transcorre numa boa, o motorista fazendo uma média de 120 km/h, chegaríamos lá com uma folga deliciosa. Até que e moça da organização se levanta do seu banco e diz que vamos fazer uma pequena parada pois “alguns ainda não almoçaram”. Bacana. Posto de gasolina com restaurante avistado, paramos. Antes de todos saírem, ela diz: “Parada de meia hora, tá, pessoal?”. Meia hora que pareceria o infinito e além. Na parada, uma outra excursão de JF nós encontramos, e nela um velho amigo que há muito não via: Marcos Henrique. Não espalhem não, mas fui eu quem apresentou o Rush para ele. Virou sua banda favorita. Conversamos muito, botamoso papo em dia e começamos a falar do Rush. E, com isso, mais gente foi se juntando e comumente se ouvia coisas como: Available Light, Counterparts, Moving Pictures, BU2B, Jazz Bass, Neil Peart, Bonecas Barbie no pé do Alex, The Necromancer... Me senti em casa. Juro para vocês. Nunca havia visto tanta gente falando sobre o Rush juntas. Elas falavam a minha língua.
A meia hora passou e fomos para a van. Todos lá dentro, vamos zarpar logo desse posto! Mas calma, calma calma, gente. Algo de errado não está certo. A moça responsável pela excursão ainda não havia voltado, mas ela logo apareceu, dizendo que ia começar a entregar os ingressos. Então, ela começou a chamar o nome dos passageiros e conferir quais eram seus papeizinhos sagrados, aqueles papeizinhos que iam permitir a nossa entrada na Praça da Apoteose. Nome vai, nome vem, ficou gente sem ingresso. Pois é, acabaram os ingressos e ainda tinha gente sem. E rola discussão, palavras agradáveis, nomes feios... e uma hora e meia perdida parados no posto de gasolina. Conseguimos sair de lá pra lá das 15h, depois de saber que os ingressos faltantes haviam ficado em Juiz de Fora. O plano era alguém levá-los de JF para o Rio e lá entregar aos respectivos donos. De volta à estrada, de volta aos 120 km/h, mas torcendo pra passar dos 400.
        No mais, a viagem foi linda. Puseram o DVD do “A Show of Hands” pra galera ir curtindo na viagem, porém a imagem tava horrivel e não queriam deixar o som alto. Resultado: nada se via, nada se ouvia. Mas não estávamos nem aí, veríamos os originais alguns momentos depois. A paisagem era magnífica, sendo que a estrada Rio-Petrópolis continua uma das mais bonitas pelas quais eu já passei. Muitas árvores e muita neblina. Parecia que uma chuvinha ia cair em poucos minutos molhando a estrada e a minha alma. Detalhe: eu não queria que chovesse durante o show, pois uso óculos. Logo, com as lentes molhadas eu não veria absolutamente nada. Quando pingaram os primeiros pontinhos de água do céu, retesei meu peito. Mas, sorte, foram pouco menos de 15 minutos de uma garoa até legal, mas no momento errado.
        Depois de não sei quanto tempo exatamente, uma hora e meia talvez, aterrissamos no Rio de Janeiro, a Cidade “Maravilhosa”. A expectativa foi aumentando e aumentando e a tensão também. Como coisas ruins andam próximas, ouvi uma voz conhecida, e logo percebi que emanava do motorista. Ele dizia algo como:”Errei o caminho, errei o caminho.” Vinicius ouviu aquilo em silêncio, me dizendo segundos depois que só podia ser brincadeira. Não sei como exatamente saímos do caminho mas sei que fomos longe, parando até em Copacabana. Eu nunca tinha ido àquele lugar antes, então, se as circunstâncias não fossem péssimas, eu teria aproveitado melhor a paisagem. Bom, só sei que demos muitas voltas passamos, por alguns lugares várias vezes, até que o gênio-motorista decide parar para perguntar. Uma boa idéia, se ele não tivesse seguido errado as instruções. Vontade de jogar para fora da van e tomar a direção, mas eu sabia menos ainda. A segunda van continuava atras da gente, nos seguindo aonde quer que fôssemos, mas sabe do que mais? O motorista dela sabia chegar na bendita Apoteose, só que de tão perdido que estávamos, até ele esqueceu. Uma hora e meia perdidos no Rio de Janeiro. Foda.
        Até que, inesperadamente surge uma estrutura metálica imensa à nossa esquerda. Era o palco. Logo, aos berros, todos da van reconhecem o nosso tão aguardado destino. O motorista se achando, vira para a esquerda, para irmos para o estacionamento. Para a esquerda errada! Era para ele ter entrado na primeira esquerda, mas ele entrou na segunda. Mas tudo bem, meia hora perdida neste novo processo. Foi muito complicado chegarmosà zona do estacionamento e lá rodamos para achar o lugar.
        Em algum momento que não me recordo muito bem, a van parou, talvez para pensarmos primeiro para onde deveríamos ir em vez de só irmos e descobrir que estávamos errados. Nesta mini-parada, todos escutam uma batida na janela da van. Susto. Alguém está querendo que abram o vidro pois quer falar com a gente. Um cara com um copo meio cheio de cerveja na mão diz que pode nos arranjar um lugar para estacionar, se deixarmos ele entrar. Agora pensa comigo: um cidadão carioca prestativo querendo entrar na nossa van para nos ajudar a estacionar, o que você pensaria. Meu pensamento foi: vou morrer. Pronto. Morrerei sem ver o Rush. Por mais inacrdetável que pareça, a moça da excursão deixou o cara entrar! Caralho, vai todo mundo morrer! Eu já rezava, planejava uma fuga mirabolante, qualquer coisa para não morrer. Tudo bem, o cara não nos assaltou e foi embora sem nos ajudar a encontrar um estacionamento. Mas encontramos sozinhos. Paramos e quando desci eu tava com cãimbras até na alma.
        A primeira coisa que eu pensei ao descer da van foi banheiro. Eu queria urinar desesperadamente e a parede do estacionamento pareceu chamar meu nome. Esses detalhes eu posso esconder. Depois de feito xixi, percebi que Vinicius já estava longe junto com Fabiano, Alan e Angelo, três caras que conhecemos na exursão. O Alan é um cara altamente bacana, ficou perto da gente durante o show e até tiramos uma foto.
        Quando avistamos a Sapucaí de frente e o palco láaaa no fundo, caiu a ficha. Entramos, PORRA! Não acreditei. Vinicius deu uma parada para ir ai banheiro enquanto Angelo, Fabiano e Alan foram entrando. Quando ele saiu da cabine, eu puxei ele num vãobora e fomos correndo. Entramos na Sapucaí. Uau. Era uma baita Avenida. E só para constar, eu dei uma mini-sambadinha, para contar aos meus filhos e netos que, um dia, há muitose muitos anos atrás, papai/vovô sambou na Sapucaí. Não preciso contar a história toda.
        Acreditem agora: apesar de perder tanto tempo, ainda conseguimos chegar 2 horas e meia antes do show e garanti meu lugar na grade, iniciando-se a pior parte. A espera foi demorada. Meu coração ia falhando e voltando a cada minuto que se passava, e passavam lentos ainda, até que, faltando 5 minutos para as 20h, horário marcado para o show, as luzes do palco, todas elas, se apagam. Gritos da platéia, que a essa hora, já era enorme. O video que dá inicio ao show começa e a expectativa aumentae aumenta, pois de tando assistir ao videozinho, eu já sabia quando os meninos iam entrar no palco. E quando eles entraram... “Begin the day with a friendly voice...”, pulei, cantei , vibrei, gritei, cantei, pulei, agradeci a Deus, pulei e cantei por mais um milhão de vezes. Alex, Geddy e Neil ali, a alguns metros da minha cara. Minha banda favorita e a banda mais divertida do mundo. Não acredito até agora e acho que nunca vou acreditar. Porém, o momento de mais incredulidade foi quandocomeçou Subdivisions, minha música favorita de todos os tempos. Quando Geddy começa em seu teclado com o Fá Sustenido, minha mão foi à boca e só conseguia ficar olhando. Durante a primeira estrofe eu não me arrisquei a cantar. Era perfeito demais. Não vou dizer que eu chorei, porque não chorei mesmo, mas quisera ter chorado, para extravasar tudo o que havia dentro de mim. Mas foi quase.
        Uma coisa que eu não gostei muito foi o grande intervalo entre os sets. Foi muito grande, por mais que o que fosse vir depois seria o Moving Pictures de cabo a rabo, que por sinal acabou ultra-rápido. Parece que não houve meio termo entre Tom Sawyer e Vital Signs, apesar de entre elas haver Red Barchetta, YYZ, Limelight, The Camera Eye e Witch Hunt. Pintudice extrema. Tive o prazer de “cantar” YYZ com o resto da Apoteose e ficar muito louco em 2112. Far Cry também foi de matar.
        Maaas, o que eram aquelas labaredas sinistras em Caravan?? Eu senti o calor das chamas na cara bem de onde eu estava, ali, na grade da Pista Comum. Foi assustador e apaixonante, assim como é o Rush e todas as suas músicas. Assustador, pois aqueles senhores são mosntros não só do Rock,mas da música como um todo e apaixonante, isso a banda fala por si só.
                                                        Eu e Vinicius

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Abre a Porta

Corro pra mudar
O que vem pra ficar
Finjo não saber
O porque de não querer
Aceitar e então ver
O melhor acontecer
Me negar e esconder
O que eu tenho aqui dentro

Quero te esperar
mas não quero me levar
E depois sofrer
Por me arrepender
Chorar e não saber
Melhor o que fazer
Cair e me perder
Desencontrar do centro

Eu vou tentando ver o amanhã,
Mas não,
Dessa vez não tem mais volta...

Eu tentei trazer de volta
O que tinha perdido
Mas depois eu vi que nada vai
Juntar o que foi partido

Eu percebi que nada disso vai melhorar
Por mais que eu tente tudo isso sai do lugar
Por que se é isso que importa,
Abre a porta.