Aquelas mãos pequenas e brancas foram
as primeiras coisas que vi; as unhas já perdendo o esmalte lilás e
a forma fina dos dedos que eram um pouco inquietos, mais ou menos
como os meus. Esses primeiros contatos com pessoas inéditas sempre
me foram complicados e, nunca havia sido particularmente fácil
abordar quem eu não conhecia. Nunca havia traquejo social suficiente
em minhas células para que eu pudesse me inserir de forma suave num
universo diferente.
Ela, de forma absorta em algo que não
estava ali, ainda não havia notado a forma retraída que pousara em
sua frente com um livro de espessura considerável em mãos. Meus
olhos subiram de suas mãos, pousaram em seu rosto e pigarreei,
buscando trazê-la daqueles aparentes devaneios. Pensei comigo mesmo
se ela sempre observava todas as pessoas que ali apareciam da mesma
forma que sem dúvida era notada, já que, se aquela sala ampla e
cheirando a mofo fosse um reino, seria ela a monarca. Cheguei à
conclusão de que talvez grande parte disso se devia ao fato de o
tráfego ali nunca ser dos mais intensos. Era, na melhor das
hipóteses, mais movimentado do que alguns cemitérios, o que não
era muito diferente, sendo ali o último destino de personagens,
histórias, traças.