segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Primeiras linhas de um novo livro. Será?


Aquelas mãos pequenas e brancas foram as primeiras coisas que vi; as unhas já perdendo o esmalte lilás e a forma fina dos dedos que eram um pouco inquietos, mais ou menos como os meus. Esses primeiros contatos com pessoas inéditas sempre me foram complicados e, nunca havia sido particularmente fácil abordar quem eu não conhecia. Nunca havia traquejo social suficiente em minhas células para que eu pudesse me inserir de forma suave num universo diferente.

Ela, de forma absorta em algo que não estava ali, ainda não havia notado a forma retraída que pousara em sua frente com um livro de espessura considerável em mãos. Meus olhos subiram de suas mãos, pousaram em seu rosto e pigarreei, buscando trazê-la daqueles aparentes devaneios. Pensei comigo mesmo se ela sempre observava todas as pessoas que ali apareciam da mesma forma que sem dúvida era notada, já que, se aquela sala ampla e cheirando a mofo fosse um reino, seria ela a monarca. Cheguei à conclusão de que talvez grande parte disso se devia ao fato de o tráfego ali nunca ser dos mais intensos. Era, na melhor das hipóteses, mais movimentado do que alguns cemitérios, o que não era muito diferente, sendo ali o último destino de personagens, histórias, traças.