terça-feira, 29 de março de 2016

Na Trave

Durante um tempo na minha vida eu joguei muita bola. Não fui dos ótimos, nem dos bons, mas dos razoáveis. Devia ter 11 ou 12 anos, e gostava muito de driblar; pegava a bola, deixava uns marcadores para trás e queria fazer gol sozinho. Coisa de criança mesmo. Treinava futsal duas vezes por semana numa escolinha lá perto da minha casa, em Além Paraíba ,e por ser o menor, nunca tinha muita chance contra os mais velhos e mais altos. Independente disso, eu jogava bola na rua também, quando ia para a casa dos meus primos em Sapucaia e, foi com eles que mais aprendi. Todos bons de bola. Eu era o pior, naturalmente, mas não faz mal. Estava em família. Nos recreios colégio e eventos esportivos eu também joguei bastante e, numa dessas aventuras esportivas um fato curioso despertou a atenção do meu amigo Vinicius (o mesmo de outros textos aqui do blog). 

Depois de centenas de partidas realizadas entre nós, seja onde for (na escola, na rua, na casa da avó dele lá perto do Aterrado), ele percebeu que eu tinha uma mania. Toda vez que eu mandava um chute para o gol eu acertava alguma das traves ou o travessão (quando havia). Quando era "gol de chinelo" ou "gol de paralelepípedo" dava na mesma. A bola batia no chinelo, que saía voando, ou no paralelepípedo e ia para outro lugar que não fosse dentro do gol. A situação era tão absurda que, ele vendo que eu planejava chutar a gol, já gritava:

- Na trave, Carlet! Na trave! 

E não dava outra. Eu me preparava com tanto carinho e regulava o pé e... Trave! Era engraçado. eu mesmo me divertia com essas coisas, e passei então a mirar o chute na trave para ver se acertava o gol. Mas nem assim. 

Recentemente fiz uma reflexão relacionando a tal habilidade de acertar a trave com vários aspectos da minha vida em geral. Percebi que, mesmo em outras áreas que não envolvem futebol, eu nunca acerto a meta propriamente dita. Estou sempre batendo na trave em quase todos os assuntos da vida, seja na vida profissional, amorosa, familiar, social. Até na vida anti-social (minha preferida) eu raramente acerto. Estou sempre almejando algo e quando eu acho que vou conseguir... Ouço o som da bola batendo na trave indo para fora. 

Tem coisa que não muda. 

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