quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Desaventuras em Cataguases

Dia 1

Era um dia como outro qualquer, tirando o fato de que era uma quinta-feira. Como todos sabem, nem todos os dias são quintas-feiras então não podemos necessariamente dizer que aquele era um dia como um outro qualquer. Por que era uma  quinta-feira, dia 11 de agosto.

Eu tinha alguns planos para aquela quinta-feira, mas, grande parte desses planos foram criados por que na sexta-feira, dia 12, eu precisaria estar em Leopoldina para fotografar a colação de grau do meu amigo Vinicius Martins, que ocorreria à noite, por volta das 19h. Ele havia me contratado para este trabalho pois sabe que piloto uma câmera fotográfica tão bem quanto piloto um fogão. A ideia era sair de Além Paraíba (eu estava na casa da minha avó, dona Hilda) e parar em Leopoldina para almoçar, deixar minhas coisas na casa do meu amigo e dar um pulo em Cataguases ver meus amigos Morani, Terezinha, Laila (e seus três anos de pura bagunça), Fernanda, Lucy, Luana, Paty e todo esse pessoal bacana que aquela cidade louca me apresentou. Basicamente, um bate-volta para não pentelhá-los muito com minha presença estonteante, e eu voltaria no mesmo dia para Leopoldina e lá pernoitaria, já pronto para a grande sexta-feira.

Porém, o plano não deu muito certo. Não consegui contatar o Artur, irmão do Vinicius, para pedir permissão para que eu pudesse lá passar a noite. Como não tinha mais o que fazer, na quinta de manhã, decidi que iria para Leopoldina na sexta mesmo e não daria para visitar o povo de Cataguases. Fiquei triste, pois estava com saudade da galera e de brincar com a Laila. Mas haveria uma próxima oportunidade. Mandei uma mensagem para Terezinha avisando que, infelizmente, não daria para visitá-los e contei tudo o que você já leu aí em cima. Alguns minutos de silêncio no Whatsapp, e então recebo uma mensagem do casal amigo dizendo que eu poderia passar a noite na casa deles, caso eu quisesse. Fiquei um pouco reticente, pois não queria, de fato, ser uma visita chata. Mas eles disseram que eu realmente deveria ir, que não haveria problemas. Preocupado, concordei, mas estava feliz em ver aquela baixinha de novo. Não só ela, claro. Antes que briguem comigo. 

Avisei minha querida avó que partiria depois do almoço para Cataguases, no ônibus de 15:30 (ônibus este que iria para Leopoldina, e de lá pegaria outro para Cataguases), e fui arrumar minhas coisas. Coisas essas basicamente meu equipamento fotográfico e umas poucas roupas. Aliás, apesar de ser pouca coisa, não coube tudo na minha mochila. A bolsa da minha câmera (com a câmera dentro, obviamente) precisou ficar de fora e ser levada na mão. Apesar de eu não gostar de carregar duas coisas, dessa vez não pude escapar disso.

Uma vez no ônibus, a viagem transcorreu tranquilamente. Tão tranquilamente que nem lembro do que fui ouvindo no celular. Provavelmente era Raça Negra. Foi uma viagem bem curta, levando bem menos tempo que esperava, e eu cheguei lá na rodoviária de Leopoldina na hora que a linha Leopoldina-Cataguases estava partindo. Consegui correr, mesmo com uma mochila nas costas e uma bolsa de câmera no corpo. Quase um Indiana Jones mineiro (coloque o tema de Indiana Jones para tocar neste exato momento).

A primeira coisa a pensar no novo ônibus, agora em direção a Cataguases, era: onde descer? A minha ideia (minha cabeça sempre com alguma ideia burra sendo produzida) era chegar de surpresa na loja dos meus amigos. Porém, eu não fazia ideia de onde pudesse descer do veículo em Cataguases de forma que ficasse perto da loja em questão. Pensei em descer na rodoviária mesmo e de lá usar o mapa do meu celular para ir me guiando pelas ruas malucas daquela cidade maluca. Era uma boa ideia, apenas tirando o fato de que a bateria do celular estava quase no fim... Olhei para o mostrador da bateria e indicava 7%. Bateu aquela angústia, e andei com os olhos para lá e para cá enquanto o ônibus não saía, pensando em alguma solução. Percebi que estava bastante vazio, o que eu achei estranho, por ser um horário de Rush (coloque Tom Sawyer para tocar neste exato momento), 16:45 da tarde aproximadamente.  Não havia ninguém perto de mim a quem pedir auxílio, tirar dúvidas, falar sobre a novela... Nada. Ou pelo menos, eu achava que não havia alguém. Eu estava sentado em um dos últimos bancos e prestando atenção percebi um movimento no banco da frente, uma leve remexida. Levantei a cabeça um pouco pra olhar e vi uns cabelos lisos.

Ok. Uma pessoa ali. Vou perguntar onde desço. Porque preciso descer perto do Bahamas. Que fica dentro de uma estação. Eu acho. Vou perguntar. Depois eu pergunto. É, depois. Mas perguntar agora seria melhor. Daqui a pouco então. Quando o ônibus andar. Acho que a bateria dura, então não preciso perguntar nada. 6%. Droga. Vou ter que perguntar.

Estico minha cabeça um pouco acima da poltrona, estufo o peito e digo:

- Oi, olá, com licença, você pode me salvar? - que jeito de se abordar uma pessoa desconhecida. E provavelmente saiu tudo embolado. A pessoa leva um susto e eu vejo que é uma menina magrinha de óculos. E eu achando que era um rapazinho de cabelos compridos...

- Oi... O Quê? - Foi tudo o que ela respondeu na hora.

- É que é o seguinte... - E comecei a explicar que estava indo para Cataguases e não sabia onde descer, que precisava chegar ao Bahamas e não sabia como. Ela disse que iria me salvar, pois ela desceria em um lugar que ficava bem próximo de onde eu precisava ir e eu poderia descer com ela que me mostraria por onde ir. Pronto. Agradeci à boa vontade daquela menina e cada um seguiu sua própria viagem em silêncio.

Na hora de descer eu pensei em esperar que ela descesse primeiro. Meio burro da minha parte. Ela não precisava me guiar até pra sair do ônibus. Desci primeiro e a esperei sair do veículo, com bastante vergonha. Mas enfim descemos e ela tomou a dianteira. Disse que íamos andando até o cursinho dela e dali ela me diria pra onde ir. Eu falei que ótimo, já é mais do que mereço. Perguntei a ela se ela estudava em Leopoldina e ela me disse que era o contrário: ela morava em Leopoldina e vinha todos os dias à Cataguases para estudar à noite. E a conversa fluiu muito bem, para dois estranhos. Em certo ponto descobri que ela se chamava Camila e a conversa estava muito boa, até finalmente chegarmos ao cursinho. Dali em diante eu estaria sozinho. Mas não foi bem o que aconteceu. Apesar de eu bater o pé, ela quis continuar andando comigo até o Bahamas (detalhe: do cursinho ao Bahamas era bem mais longe do que de onde descemos até o cursinho!). Eu achei muito bacana da parte dela e é raro encontrar pessoas assim hoje em dia. Provavelmente nunca mais a verei novamente, mas foi uma coisa muito boa tê-la conhecido. 

Cheguei à loja e não causei tanta surpresa assim, não. Lá estavam Fernanda e Tê (apelido carinhoso da Terezinha). Eu não havia fofocado muito com as meninas quando chegou o Morani Pai e dei aquele abraço nele e trocamos algumas figurinhas, depois de tanto tempo sem vê-lo também. Terminados os cumprimentos e as novidades, fomos buscar a filha do casal amigo, a Laila, que estava na casa da avó, para que pudéssemos ir jantar. E como é bom reencontrar aquela mini-cidadã de novo! Se eu pudesse escolher uma pessoa que fez valer meu 2016, certamente escolheria a Laila. Sem empates - e agora, ponha Layla, do Eric Clapton na vitrolinha, por favor.

O jantar, regado com uma cervejinha (não pode faltar, pois nenhuma boa história começa com "estava eu tomando suco de morango..."), foi bem divertido. Ouvi alguns conselhos muito importantes, falei umas piadas ruins - normal - planejamos o futuro e saímos de lá satisfeitos. Levemente alterado, entrei no meu carro que deixei emprestado com o Morani (risos, ele vai entender a piada) e fomos para a casa deles para finalmente dormir. Ou esse era o plano.

Chegando lá, comecei a brincar de pique-esconde com a Laila. E eu levo muito a sério essas brincadeiras. Lá pela sexta ou sétima vez que eu iria me esconder para que ela me procurasse, eu quis descer as escadas para me esconder na cozinha. Péssima escolha, péssima escolha.

Não sei como, quando, onde, porque eu perdi o equilíbrio. Numa escada alta. A primeira reação que tive foi procurar onde segurar, mas não havia onde. Acabei me jogando com força na parede, bem em cima do meu braço que, senhoras e senhores, foi protagonista de um outro texto neste mesmo blog. Qual minha surpresa quando sinto e ouço um "créeec" saindo do meu ombro? Pronto, saiu do lugar de novo, cinco anos depois. No susto, ainda acabei rolando o resto da escada todinho, só parando no patamar. Devem ter sido uns 15 degraus. Doeu. Sei que minha queda foi um baita barulho e acho que ouvi o Morani falando lá de dentro:

 - O que foi isso, Meu Deus?

Eles foram até a escada e tenho certeza de que o que viram lá do alto era uma bolinha de papel amassado no patamar - eu - segurando o braço fora de lugar. Os dois desceram para ver mais de perto a cena e pareciam um tanto apavorados. Depois que subimos as escadas de volta, Terezinha pegou o telefone para pedir socorro a umas pessoas quem não lembro quem, para ver o que fazer comigo. Sério, eu fiquei com vergonha demais. Logo eu, que tem pavor de dar trabalho para as pessoas, de ser um incômodo...

Laila se aproximou de mim e viu em meu rosto a dor que perpassa meu braço esquerdo - sempre ele, desgraçado. Vou arrancar essa porra fora. Ela me perguntou com uma vozinha vacilante e com os olhos rasos d'água se está doendo. Eu falo que sim, muito... E é aí que a cara de choro dela aperta um pouquinho mais. Me arrependi de ter dito a ela que estava doendo.

Parecia que a solução era mesmo ir à Unidade de Pronto Atendimento de Cataguases e lá puxarem meu braço para ser colocado no lugar. Dessa vez meu braço ficou numa posição deveras esquisita e eu parecia estar imitando Clodovil Hernandes, com a mão levantada fazendo ângulo reto no cotovelo. Aliás, até fingia estar coçando a orelha, só pra ficar com menos vergonha um pouco daquela pose pouco usual.

Até que fui atendido rápido! Já cheguei lá levando esporro da Terezinha pra parar de fazer bagunça e prestar atenção no rapaz me pedindo os meus dados para dar entrada na UPA. Dados anotados e eu finalmente sentei pra esperar ser atendido e, pasmem, foi rápido. A minha experiência anterior com a mesma situação não me evocava boas lembranças sobre espera. Portanto, foi um choque agradável me descobrir já na sala de raios-x minutos depois de dar entrada na UPA. O rapaz do raio-x precisava fazer o trabalho dele, então ele pedia que eu fizesse movimentos que provavelmente meu braço estava impedido de fazer. Até tentei mas o danado não se movia direito. Por fim, o cara desistiu de fazer a chapa direito e foi do jeito que deu: errado mesmo. Mas, já que ele disse que já ajudaria, estava ótimo.

Eu sentia no meu âmago que o momento da verdade estava próximo. Todos ansiavam me ver berrando e esperneando de dor para darem algumas risadas naquela noite fria de agosto. Depois que levei o raio-x ao ortopedista ele me disse para deitar na mesa que iam puxar meu braço. Estranhamente não me pediram para tirar a roupa como em São João Del Rei. Aliás, ninguém entendeu porque me pediram para ficar seminu para botar o braço no lugar da outra vez. Quando contei, riram da minha cara. Normal. Mas, uma vez deitado, começou o ato de pisar nas minhas costelas para intensificar a força de puxada. Fechei os dentes com força e comecei a cantar Faroeste Caboclo na cabeça (para passar rápido e/ou desconcentrar da situação ambiente – já usei bastante essa tática). Contra todas as chances (agora, ponha Against All Odds do Phil Collins aí no Walkman) o ortopedista era um ótimo puxador de braços e me deixou calmo, o que era imprescindível para que os músculos do ombro não se retesassem. Em uns cinco minutos de puxa pra lá, puxa pra cá, o ombro delicadamente escorrega para o lugar certo – e a dor sumiu, como que por mágica. Me deram uma tipóia (gaze amarrada) e me pediram para não mexer o braço quase nada durante um bom tempo. Mal sabiam eles que no dia seguinte eu precisaria fotografar uma colação de grau!

Todos felizes agora com meu braço no lugar, voltamos pra casa dormir. Foi uma loucura.

Dia 2

Dormir foi uma agonia. Tive que ficar imóvel e tomando cuidado pra não mexer bruscamente durante o sono e isso durou a noite toda. Se eu dormi, não lembro. Se eu não lembro, provavelmente dormi, sim. Mas não foi legal não. Mas, tão ruim quanto dormir, seria começar a fazer tudo me usando de um braço só em 90% das coisas. Até um inofensivo xixi se tornaria uma luta épica com o fecho da bermuda/calça.  

De manhã, assim que acordei, já comecei a brincar incansavelmente com a Laila. Como se não houvesse amanhã. Na verdade, não haveria, pois eu precisaria ir 14h para Leopoldina para a casa de meu amigo me preparar para a colação de grau.
Almoçamos e fomos para a loja um pouco. Morani me daria carona até a rodoviária mais ou menos quando chegasse a hora. Era legal ir à loja, afinal eu precisava me despedir dos amigos doidos que trabalhavam/passavam por lá. Tive que contar em poucos minutos a odisseia para o pessoal me sacanear, como já era esperado... Mas tudo bem, faz parte. E, como todas as coisas boas acabam, chegou a hora de dar tchau.

Morani falou que era hora de ir senão perderia o ônibus, e assim peguei minha mochila e a bolsinha da câmera, entramos no carro e nos encaminhamos para a rodoviária de Cataguases. Não sei porque, sempre tive vergonha de me despedir da pessoas. Não tenho jeito mesmo para fazer isso. Não se se abraço, aperto as mãos, ou tudo ao mesmo tempo, o que eu falo, se não falo nada, sei lá. É difícil, não me julgue.

Havia um ônibus de rua que fazia o trajeto entre Cataguases e Leopoldina, e vice-versa. Porém, não me lembro a razão, acabei comprando a passagem de um ônibus de viagem que iria para Juiz de Fora, às 14h, mas pararia em Leopoldina antes, aí eu desceria lá. Saindo do guichê já havia um ônibus me esperando, ônibus este da empresa da qual comprei a passagem. Me despedi do Morani, o agradeci pelos cuidados com um jovem acidentado e entrei no veículo. Já entrei procurando a poltrona e, quando a encontrei, coloquei ali minha mochila e a bolsa da câmera. No momento em que ia me depositar também no assento, ouço a voz do motorista:

- Rapaz, vem cá. Deixa eu ver tua passagem.

Que medo. Mas ainda bem que ele fez isso, sabe porquê? Eu tinha entrado no ônibus errado. O ônibus que eu havia entrado estava indo para Muriaé! E digo mais, o ônibus para Juiz de Fora (o que me deixaria em Leopoldina) já tinha saído. Uns meninos na poltrona frontal do ônibus me falaram que o ônibus de Juiz de Fora acabara de partir. Que ódio. Peguei minha mochila, me despedi dos meninos e para pensar no que fazer. Botei minha mochila no chão encostada em uma pilastra e já estava pensando em perguntar à moça do guichê das passagens se havia algum ônibus em breve que me largasse lá em Leopoldina. Quando olhei para minha mochila sozinha ali no chão, me lembrei que eu também carregava minha câmera em sua bolsinha. Mas a bolsinha, a danada, não estava ali. O coração bateu forte. Levantei a mochila, levantei os meus pés, dei uma volta na pilastra onde eu estava e nada da bolsinha. Já sei, pensei, deixei a desgraçada no ônibus. Calmamente, já ia me dirigindo para onde o ônibus estava e... O ônibus não estava mais lá!

- CARALHO!!! – foi tudo o que consegui pensar. Em voz alta. Altíssima. Coloque a música Tragedy, dos Bee Gees, pra tocar.

Comecei a andar igual a um desesperado na rodoviária e me xingando em voz alta enquanto tentava pensar. Tentei ligar para a loja, mas não tinha crédito. Tentei ligar pro Morani, mas não tinha o número dele; tentei ligar pra Terezinha; mas não tinha crédito do mesmo jeito. Não tinha wi-fi perto pra eu roubar também, antes que você fale. Saí da rodoviária com a mochila nas costas, suando frio e lá fora, sob um sol de faroeste, avistei um taxi. Não pensei duas vezes. Corri até ele, com o braço na tipoia, mochila num ombro só e tudo – doendo, óbvio – e falei ao motorista:

- Você sabe pra onde o ônibus de Muriaé vai? – falei rápido, mas tão rápido que eu não entendi. Mas o taxista entendeu. E olha que ele parecia ter uns 120 anos.

- Sim, eu sei – respondeu de dentro do automóvel, enquanto eu já entrava e berrava pra ele “então vamos atrás! Logo!”

Saímos em disparada, uma verdadeira perseguição. Eu torcia para encontrar o ônibus logo pois eu estava PAGANDO o taxista pra me levar. Se bem que, desde que eu encontrasse a câmera, eu pagaria qualquer coisa.

O taxista cortou um caminho e depois de 1km ou mais um pouco ele me deixou em um ponto de ônibus onde, supostamente, o ônibus de Muriaé ainda não passara. A viagem me custou dez reais e meu coração batia acelerado, torcendo para que, realmente, o ônibus não tivesse passado ainda.

Fiquei em pé no ponto de olhos fixos na rua, um braço amarrado numa gaze e uma mochila de uns 10 quilos nas costas. Estava arrasado e desesperado. Não poderia perder aquela câmera! Minha única fonte de renda indo embora assim, pra Muriaé... Seria um golpe muito forte da vida. E, viajando na minha desgraça, um ônibus de repente pintou no horizonte. Qual minha surpresa quando vejo MURIAÉ escrito bem no alto do pára-brisas. Corri igual um louco para o meio da rua e fiquei pulando mexendo um braço só e o ônibus parou!  Entrei e já perguntei ao motorista,

- Oi tudo bom acho que minha câmera ficou aqui lembra de mim eu subi e desci porque estava no ônibus errado você lembra lá na rodoviária? Então.

- Sei não filhão, olha lá atrás. – e seguiu viagem dirigindo o ônibus. Comigo dentro.

E eu fui. E ela não estava lá na minha poltrona.

Olhei pra cara da trocadora quase chorando, e ela olhou pra mim e eu perguntei a ela sobre minha bolsinha. E sei lá porque, a câmera estava na parte de cima, das bagagens do outro lado do corredor! Ela pegou a bolsinha e me deu. Eu ainda abri a câmera e mostrei uma foto minha na memória só para provar que eu era mesmo o dono. Pra coroar a situação era uma foto sem camisa. Feliz da vida em rever minha máquina, pedi ao motorista me deixar em qualquer lugar. Os meninos do banco da frente me zoaram ainda, os mesmos que me avisaram que o ônibus de Juiz de Fora havia partido, disseram pra mim:

- Você nunca mais volta em Cataguases né.

- Tomara que não – e expliquei ainda sobre meu dia anterior onde ferrei meu ombro.
Desci não sei onde. Mas eu parecia muito longe da rodoviária. Não sabia o que fazer, então decidi voltar pra loja dos meus amigos. Fui andando e perguntando onde era o Bahamas e depois de quase meia hora andando, cheguei à Norma Celeste.

Não preciso nem dizer a cara com que me viram chegar novamente à loja. Eram caras de legítimas interrogações. Contei a eles a minha história e é lógico, eles acharam-na absurda e que – como todos fazem – disseram só podia ter acontecido comigo, mesmo. Eles ficaram espantados me deram novamente carona até a rodoviária. Dessa vez, fizeram questão de ter certeza de que eu havia entrado no ônibus certo. 

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